Este livro é um marco para as reflexões sobre as relações raciais brasileiras contemporâneas. Seu ineditismo, no entanto, não está somente na emergência do tema na cena editorial, mas, sobretudo, nas atualíssimas produções – baseadas em relatos e investigações acadêmicas – das novas gerações de brasileiros descendentes de imigrantes do Leste Asiático.
O livro é relevante não só porque apresenta narrativas, interpretações e estudos sobre a experiência de brasileiros de origem asiática, mas porque também dialoga com conceitos relevantes para o mundo contemporâneo, a exemplo dos temas diáspora, racialização, branqueamento e nacionalidade. Não poderia lhe escapar à noção de estereótipo, categoria chave para o entendimento dos processos de estigmatização de diferentes grupos, apresentando conteúdos contextualizados e territorializados; é fato, contudo, ainda sensível à transnacionalização.
Uns e outros, mal-informados, diga-se de passagem, vão dizer que estaria este livro no bojo dos assuntos identitários brasileiros. Leitura apressada é sempre má leitura. Se me permitem, leitores, uma sugestão: não caiam nessa cilada do identitarismo. Esse não é o discurso e as narrativas dominantes em O “Perigo Amarelo” nos dias atuais: reflexões de uma nova geração. Nele, os temas são, antes, a luta pelo respeito e pelo reconhecimento, que, para tanto, exigem desfazer-se dos estereótipos, ferramentas de dominação simbólica e material que aprisionam grupos que são tidos como não ocidentais ou de fora da história europeia.
O “Perigo Amarelo” se soma agora a uma história da produção intelectual realizada para compreender, há mais de um século, os dilemas de convivialidade no contexto de formações nacionais e no seu processo constante de reimaginação. Foi assim com a obra fenomenal de Koichi Kishimoto, “Isolados em um território em guerra na América do Sul”. Foi também assim com o trabalho primoroso de Hiroshi Saito, em seu livro “Japoneses que se tornaram estrangeiros” (1978). Mais recentemente, “A negação da identidade nacional”, em que o antropólogo Jeffrey Lesser atualiza o debate acerca das vicissitudes da nacionalidade e seus me- dos e dedos na incorporação de certos segmentos de descendentes da imigração oriental. Em comum, a longa história das reflexões sobre o racismo antiamarelo no Brasil tem a característica de que os brasileiros de ascendência asiática, particularmente do Leste Asiático, são vistos como “eternos estrangeiros”.
Com relatos desconcertantes, O “Perigo Amarelo” nos coloca frente a frente com os desafios nacionais e os temas globais que envolvem a convivialidade dos descendentes dos povos asiáticos nas nações americanas. O Brasil – por muito tempo propagador da democracia racial – não ficará ileso no que diz respeito à crítica contundente que emerge dessas páginas. O “Perigo Amarelo” é, pois, um convite a olhar o Brasil atual por dentro. Quer saber mais? Vamos à leitura?
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